O que é felicidade?
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O que é felicidade?

Cíntia Tereza*

A felicidade tem sido conceituada ao longo da história de várias maneiras. Pode ser sentida de forma muito particular por cada um de nós, mas quando penso no que é felicidade ou no que de fato me faz feliz, me imagino vivendo uma vida plena e no que de fato importa de verdade.

Seja bem vindo (a), entre, sente comigo um pouco, faremos uma pausa, vamos deixar de lado os nossos afazeres, haverá tempo suficiente para fazê-los mais tarde. Talvez num dia distante, ao chegarmos à porta do paraíso, não nos perguntarão sobre se limpamos a casa e, sim, com que intensidade escolhemos viver. Por hora, vamos nos permitir que o pensamento tranquilo tome conta de nós. Experimente sentar neste sofá, acho que é perfeito para o seu corpo, respire fundo… e se permita estar presente agora. E aqui, neste refúgio afastado, se autoriza que a alma diga o que pensa. Talvez você tenha vindo à minha casa interessado (a) em saber sobre a felicidade e vai mais além disso: te convido a refletir e a sentir  a experiência de bem estar da pessoa inteira.

Ser inteiro e pleno. É nesta experiência que a felicidade habita. Viver a vida plenamente, não pela metade, não dois terços, não um dia, cada dia. Não de acordo com os interesses do outro, mas de acordo com a sua própria capacidade, livre escolha, lhe dando vida e não entorpecendo-a. Ser inteiro pode parecer amplo. E é  mesmo! Para absorvê-lo, precisei perceber o que estava por trás dele, dividindo-o em camadas com o olhar no bem estar do outro.

Tal Ben Shahar, o “doutor da felicidade”, sugere que 5 elementos juntos refletem a essência da pessoa inteira: bem estar espiritual, físico, intelectual, relacional e emocional (SPIRE). Viver esses 5 elementos significa experimentar o seu potencial máximo de felicidade, rompendo as barreiras e limitações que impedem que o nosso eu maior floresça. O SPIRE funciona como uma força vital que pode nos inspirar e devolver a vida. No mito de “Psique e Eros”, Psique não se dá conta do profundo equívoco que comete quando tenta “ver” o verdadeiro amor, em vez de “confiar” nele. O resultado é o Eros, seu belo amado, ser ferido e desaparecer. Ela precisou fazer uma longa viagem onde conhece mulheres sábias que lhe ensinma que a vida é curta e falam da necessidade de dar atenção ao que mais importa.

Vida plena significa se concentrar nesses 5 elementos e não se pode negligenciar nenhum deles. Estão todos interconectados e um afeta o outro, como diz Platão: “A parte nunca está bem ao menos que o todo esteja bem”. É como os órgãos do nosso corpo. Se algum deles não funcionar bem, certamente vai interferir no bem estar com o meu corpo como um todo. É no equilíbrio dessas 5 forças que se entrelaçam num abraço e que mutuamente se reforçam.

Buscar a felicidade parece ser uma coisa boa. O valor de cultivar a felicidade para além do que é bom, eleva os níveis de bem estar. Temos um sistema imunológico mais forte e mais longevidade, aumenta a criatividade e engajamento e melhora os relacionamentos pessoais e profissionais. No entanto, ao buscar a felicidade diretamente, corremos o risco de nos perder no meio do caminho. A ideia central é que busquemos a felicidade de forma indireta, ou seja, buscando as coisas que nos levam à felicidade. Os cincos elementos são fortes candidatos para esta busca indireta. Com esses elementos, podemos entender e buscar melhor a felicidade.

Será que a felicidade é encontrar algo que seja valoroso, que nos traga senso de propósito? Como se disponibilizar a ajudar pessoas, criar uma família, ensinar (bem estar espiritual)?

Será que depende da nossa saúde e vitalidade? Como praticar exercícios físicos regulares, ter hábitos saudáveis (bem estar físico)?

A felicidade é o desenvolvimento e a solidez do pensamento cognitivo e fundamentado? Como ler um bom livro, fazer boas conexões, apresentar um seminário (bem estar intelectual)?

Ela depende da minha interação com os outros e a qualidade dos meus relacionamentos? (bem-estar relacional). Ou se resume a experimentar prazer (bem estar emocional)?

Penso que a resposta é sim, mas em parte. Nenhum deles sozinho é suficiente, mas são essenciais para uma vida boa e satisfatória. Nós encontramos felicidade quando experimentamos bem estar em cada um dos 5 elementos que compõe o ser inteiro. Claro que na nossa vida cotidiana nem sempre temos a oportunidade de vivenciar essas dimensões, às vezes passamos toda a nossa vida à espera do extraordinário, daquele momento em que se abre totalmente os portões, como se fôssemos resgatados de si mesmo. Sejamos a força que estamos destinados a ser, viva como um ser pleno o tempo todo, até seus limites não te alcançarem a despeito de todas as nossas inquietações, angústias, incertezas ou certezas, pois tudo é combustível para avançar.

É sobre essa base do SPIRE que podemos estabelecer as decisões para uma vida feliz. Ao te convidar para entrar na minha casa no início desta nossa conversa, experimentamos a essência do ser inteiro, do que realmente importa. Preparei um café quentinho para nós, ouvimos música, contamos nossas histórias o suficiente para nos alimentar com a sua simplicidade e sutileza, reservei o meu cantinho preferido para ficarmos, a varanda, a sala ou o quintal e nos permitimos sentir o momento lindo, que muitas vezes esperamos uma ocasião especial para poder viver. Para que esperar pela ocasião especial? Se torna especial onde a alma está presente, você percebe? Deixar para outro dia é uma forma de dizer que não merecemos viver inteiramente no dia a dia. Hoje é o dia de ser mais feliz e esta felicidade está no meu e no seu cotidiano. Simples assim. Só precisamos mudar a percepção e nos disponibilizar para buscar indiretamente o que nos faz felizes.

Nos próximos artigos, vamos discorrer sobre os princípios de cada elemento SPIRE e nos aprofundarmos na minha e na sua jornada para a felicidade.

* Cíntia é gestora de Gente e Hospitalidade do RioMar Recife. É personal e professional coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e integrante da Happiness Studies Academy (HSA – Academia de Estudos da Felicidade do Doutor Tal ben Shahar).

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