Cíntia Tereza*
A felicidade caminha junto com o tempo e a nossa relação com o tempo tem uma influência muito intima com o nossos níveis de felicidade. Vivemos em pleno estado de alerta, onde tudo é urgente, a velocidade da informação é muito instantânea, sabemos de coisas que acontecem do outro lado do mundo em segundos. A distância entre os espaços praticamente desapareceu e tudo se transforma em instantaneidade.
Com a urgência da vida, não conseguimos respeitar os nosso ritmos biológicos que evoluíram para termos dia e noite. Quantas vezes ficamos até tarde acordados realizando alguma atividade que não conseguimos fazer durante o dia? Com isso, não repousamos o suficiente, comprometendo o nosso organismo, gerando mais ansiedade. Tenho a sensação que por mais que eu corra para realizar todas as atividades do dia ,ainda assim, pareço não dar conta. Não dou conta dos 120 e-mails por dia, de várias mensagens do WhatsApp , do excesso de informações e estímulos que recebo. Muitas vezes são informações que não vão influenciar em nada na minha vida, mas eu acho que preciso saber, e quando não conseguimos dar todos os retornos, somos, muitas vezes, mal compreendidos.
A nossa forma de nos comunicar mudou muito nos últimos tempos, nunca estivemos tão conectados e tão sozinhos, à procura da felicidade instantânea. Não raro, vemos nos restaurantes famílias ou grupos de amigos, um ao lado do outro, mas cada um conectado com o seu celular, não nos permitindo estar presente e cultivar o bem-estar relacional, tão fundamental para termos uma vida boa, longa e feliz.
Com esse senso de urgência e pressa, muitos de nós estamos fragmentados na nossa identidade, desalinhados com a nossa essência, nos sentido confusos, perdidos. Não temos tido tempo para nos aprofundarmos em nós mesmos e nossa mente demanda esse aprofundamento, se quisermos ser mais felizes. Com pressa, só enxergamos o que é urgente e imediato, quando temos tempo somos capazes de tomar decisões mais proativas, reconhecer o outro e experimentar os benefícios da jornada.
“Para sermos mais felizes, precisamos sair dessa teia do tempo, da urgência, do excesso de atividades, deixando o nosso tempo livre.”
Porque levar o tempo com tranquilidade é tão importante para a nossa felicidade? Porque fazer muitas atividades, preenchendo o máximo do nosso tempo pode ser tão prejudicial? O silêncio e a inatividade criam um espaço, nos dando tempo para pensar , refletir, sonhar e imaginar, nós nos educamos também com o silêncio. Estudos evidenciam que a aprendizagem pode acontecer durante períodos de introspecção silenciosa e consciente. Quando refletimos, reproduzimos o material mais de uma vez na nossa mente e, com isso, somos mais propensos a lembrar e internalizar.
E quando preenchemos todo o dia dos nossos filhos, por exemplo, com atividades como inglês, balé, futebol, etc, estamos fazendo um desserviço a eles. Eles e nós precisamos de tempo para ficar sem fazer nada. Sim, aquela crença de que não fazer nada é improdutivo, não é bem verdade, pois quantidade não traduz em qualidade de vida ou pensamento. Para sermos mais felizes, precisamos sair dessa teia do tempo, da urgência, do excesso de atividades, deixando o nosso tempo livre. Uma mente que tem tempo para vagar livremente, cometer erros, aprender a pensar fora da caixa. Encoraje você e a seus filhos a ter um tempo para não fazer nada, assim criaremos um espaço para a construção. E como diz Henry David Thoreau, “a vida é muito curta para ter pressa”.
* Cíntia é gestora de Gente e Hospitalidade do RioMar Recife. É personal e professional coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e integrante da Happiness Studies Academy (HSA – Academia de Estudos da Felicidade do Doutor Tal ben Shahar).
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