Plantas sempre estiveram presentes na alimentação dos brasileiros. No entanto, com o aumento do consumo de comidas industrializadas, costumes antigos, como a alimentação à base de plantas comuns ao nosso dia a dia, foram sendo deixados de lado. Os chás de capim-santo passaram a ser comprados em caixinhas nos supermercados e o bredo, lembrado apenas na Semana Santa, por exemplo. Entrando para a lista de ervas subutilizadas, as duas são consideradas Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs) e assim como tantas outras, possuem alto teor nutritivo e estão ligadas a questões sociais e culturais. No Brasil, estima-se que 10 mil espécies botânicas tenham potencial alimentício.
Segundo a climatologista e coordenadora do Laboratório de Mudanças Climáticas do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Francis Lacerda, as Pancs são plantas bastante conhecidas e que podem ser facilmente aderidas à alimentação. “Elas eram popularmente conhecidas como mato. São plantas que encontramos em qualquer lugar, como a erva cidreira, por exemplo. Algumas são consideradas super alimentos e deixam de fazer parte da nossa alimentação diária por falta de informação ou preconceito.
Podem compor a alimentação substituindo até alimentos comuns nas saladas, como alface”, explica. Para ela, a introdução das Pancs nos pratos vai além da questão nutritiva e tem relação com a produção de um novo tipo de agricultura, que valoriza os produtores e inclui as pessoas. “Porque não substituir plantas que estão com seu cultivo ameaçado por mudanças climáticas ou que demandam cuidados muito específicos, como o uso de muita água, por plantas já adaptadas ao nosso meio? As potencialidades não são só nutricionais, envolvem cadeias produtivas que geram renda e cidadania para os envolvidos”.
Em alguns casos, podem substituir até proteínas, como no caso da ora-pro-nóbis, encontrada na maioria dos Estados. “Ela é comum em quintais de casas e terrenos e é conhecida como bife de pobre por ser um alimento econômico, nutritivo, proteico e acessível. Pode ser alternativa para as pessoas que não comem carne”, lembra Francis.
Comer ao sabor da estação: a importância das frutas da época
Bióloga e chef de cozinha, Adriana Borges conhece bem o uso de Pancs. Pesquisadora de palmas, ela usa a criatividade para produzir os mais variados pratos com a planta característica do Nordeste. “Uso para fazer farinha, biscoitos, pães, sorvete, doces, sopas, coloco em saladas, pratos com camarões… de toda forma. Ela é um alimento extremamente nutritivo, rico em ferro, aminoácidos, fibra, cálcio e até vitamina A”, diz. Segundo ela, apesar de todos os benefícios e do sabor suave, o preconceito ainda é forte. “As pessoas acham que só é consumida por pessoas em situação de extrema pobreza, na falta de alimento, ou por animais. É uma visão equivocada”.
Por seu baixo custo e facilidade de plantio, a palma é considerada pela chef uma saída para o desenvolvimento econômico a partir da comercialização e preparação de pratos. “Pode estimular o desenvolvimento cultural e social, já que é um produto versátil e que hoje está espalhado por todo o Estado”, acrescenta.
Na gastronomia, o tema está destaque e tem atraído um público cada vez mais diverso. No entanto, a assessora de Gastronomia da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Ana Claudia Frazão, alerta para o cuidado na hora de consumi-las. “Essas plantas já não faziam parte dos hábitos e da cadeia produtiva, mas nos últimos anos vêm sendo resgatadas por pesquisadores e consumidores, mas é preciso ter cuidado e conhecer o que está sendo consumido. Há literatura sobre essas plantas e é sempre bom consultar quem entende do assunto. Fora isso, são apresentam potencial socioeconômico à agricultura familiar por trazer sustentabilidade, segurança alimentar e nutricional às pessoas”, comenta.
Fonte: Jornal do Commercio
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