Mulheres com trajetórias diferentes dão lições no RioMar Entre Elas

Mulheres com trajetórias diferentes dão lições no RioMar Entre Elas

Cerca de quatro horas pensando sobre inovação, criatividade, empreendedorismo, empoderamento. O RioMar Entre Elas trouxe mulheres com histórias diferentes para falar sobre temas tão importantes neste século. Temas presentes no dia a dia das mulheres e que, muitas vezes, não paramos para refletir. O evento foi realizado, nesta terça-feira (13), no Teatro RioMar, em homenagem ao Mês da Mulher.

Palestrante internacional especializada em marketing digital, Martha Gabriel abriu a noite falando sobre Inovação e Criatividade. Ela começou listando as habilidades essenciais do século 21: pensamento crítico, criatividade, conexão e resiliência.

Sobre a diferença entre inventar e inovar, ela explicou: Inventar é criar, engendrar, descobrir. Tende a ruptura. Inovar é tornar novo, renovar. Para inovar, não precisa ser algo inédito. Precisa agregar valor. “Quando implementa a criatividade, vira inovação.”, ressaltou.

Mas o que inibe a criatividade? “Nossa imaginação tende a se contrair à medida em que nosso conhecimento e julgamento se expandem. Isso vai minando nossa criatividade. A sociedade não incentiva a criatividade, mas recompensa quem é criativo. Tem que ter coragem.”

Ao falar para um público em que a grande maioria era mulher, Martha lamentou que a área de tecnologia ainda seja ocupada quase que na sua totalidade por homens. “Quem vai ser valorizado no futuro é quem entende de tecnologia. As mulheres precisam ocupar esse espaço também”, disse.

A palestrante ainda aconselhou: “Sociedades inovadoras primeiro contam histórias inovadoras. Meu pai falava ‘se você for engenheira, você constrói o que quiser’. Eu acreditei e estou aqui. É dentro de casa, contando histórias, que iremos criar adultos inovadores.”

Empreendedorismo

De forma descontraída, a jornalista Larissa Pereira, que mediou o evento, apresentou as convidadas Dona Coxa (nome de batismo Maria Ilza da Conceição) e Joana Lira. Com trajetórias diferentes, as pernambucanas falaram de histórias de sucesso, cada uma na sua área.

Dona Coxa é proprietária de uma lanchonete no entorno do RioMar. Há pouco mais de cinco anos, à época da construção do shopping, percebeu que poderia ganhar dinheiro vendendo coxinhas para os funcionários da obra. “Comecei a dar amostras e eles começaram a pedir mais. Fui fazendo e vendendo. Era por cima do muro. Depois, abriram um buraco, que fechavam à noite com um tapume”, lembrou, arrancando risos da plateia.

Cinco anos depois, ela fala orgulhosa do empreendimento que expandiu. Vende, além da famosa coxinha, vários salgados, bolos, docinhos, café da manhã, almoço e jantar.

Joana Lira veio de uma família de talentos. Filha dos arquitetos Carlos Augusto Lira e Beth Paes, herdou o gosto pelas artes e, desde cedo, tinha o espírito empreendedor. “Vendia minhas bonecas velhas e gibis na parada de ônibus”, lembrou a artista visual que assinou durante dez anos a cenografia do Carnaval do Recife.

Como uma mulher simples que trabalhava em uma empresa de contabilidade é, hoje, dona do próprio negócio, empregando boa parte da família? “Quando vier a dificuldade, atropele, passe por cima. Está com medo? Vai com medo mesmo”, ensina Dona Coxa.

Como a menina que vendia boneca velha e gibi virou artista visual de sucesso em todo o País? “Acreditei na minha intuição”, revela Joana.

Empoderamento

Zezé Motta, 72 anos. Rayza Nicácio, 24 anos. Quase 50 anos separam essas duas mulheres, unidas, nesta terça-feira, em torno da mesma luta: romper o preconceito. Ambas são brasileiras e negras. Zezé ficou famosa nos palcos, na televisão e no cinema. Rayza, nas redes sociais.

“Desde muito cedo, tive um problema sério. Morava na Zona Sul do Rio, num apartamento no Leblon de classe média baixa. Viviam dizendo que meu cabelo era ruim, minha bunda era grande e meu nariz, chato. Alisava o cabelo e usava uma peruca Chanel. Cheguei a pensar em fazer cirurgia para diminuir o bumbum. Tudo para apagar minhas origens. Foi um processo de embranquecimento. Eu não queria ser negra porque eu queria ser aceita”, afirmou Zezé.

“Meu cabelo sempre foi minha questão. Quando criança, olhava para minha mãe e pensava: Vou crescer e alisar o cabelo como ela. Foram 19 anos negando meu cabelo. Até que um dia, me olhei de forma diferente no espelho. Demorou para aceitar, mas, aos poucos, fui me achando bonita. Mas meu processo de desconstrução continua até hoje”, disse Rayza, que faz sucesso nas redes sociais não apenas ensinando a cuidar dos cachos. Ela ensina, sobretudo, crianças e adolescentes que, como ela, alisaram o cabelo durante anos, a se aceitarem como são.

Ao final do evento, Zezé emocionou a todos cantando à capela a música Minha missão, de João Nogueira. Uma homenagem às mulheres da plateia e do palco.

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