Propósito e bem-estar espiritual: um convite à reflexão
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Propósito e bem-estar espiritual: um convite à reflexão

Por Cintia Tereza*

“Uma vida com propósito é uma vida espiritual”

Muitas pessoas associam espiritualidade à religião, e sim, as pessoas encontram uma conexão espiritual em lugares de adorações, nas suas crenças em Deus, no universo e nos ritos, apenas para citar alguns exemplos. No entanto, também é possível trilhar um caminho espiritual sem necessariamente estar associado à religião. Ao buscarmos o significado da palavra espiritualidade no dicionário diz que “É o sentido real, a significância de algo”. Por isso entendo que ao fazermos algo que nos faça sentido, que seja importante para nós, a nossa jornada de vida se torna espiritual.

A espiritualidade aparece de várias formas para uma pessoa. Pode estar em frequentar cultos, templos, abrir um negócio, ajudar numa comunidade, criar uma família, escrever um livro. Esta jornada espiritual está relacionada a nos conectarmos ao significado real do que fazemos, independente do que seja. Mas nos tempos atuais, tenho visto pessoas muito distantes desta conexão com significado, perdidas em si mesmas. Vivemos num mundo onde o espiritual foi substituído pelo material. Não raro encontro e converso com pessoas que dizem sentir uma “sensação de vazio”, a ansiedade e a apatia se tornaram os humores dominantes e o desengajamento cresce no ambiente de trabalho. Esse vazio é um dos principais problemas sofrido pelas pessoas. Sem um senso de propósito, o nosso bem-estar espiritual sofre e nossa experiência de vida é afetada negativamente como um todo.

Benefícios de uma vida com propósito

Existem benefícios relevantes em possuir uma vida com propósito. Estudos feitos pelo psicólogo Willian Damon apontam que “o sentido da vida de uma pessoa está praticamente ligada a todas as dimensões do bem-estar”. Um senso de propósito nos torna mais saudáveis e um sistema imunológico mais forte, e isto pode nos devolver a vida. Quantas pessoas você já conheceu que ao se aposentarem, ficaram mais doentes e mais infelizes porque elas não tinham mais o senso de propósito que o trabalho fornecia? E outras mesmo estando muito vulneráveis e em sofrimento se mantiveram firmes e resilientes porque tinham um forte senso de propósito?

O bem-estar intelectual também é fortalecido com um senso de propósito. Os estudos de Robert Butler evidenciaram que “aqueles que têm um objetivo claro na vida, não apenas vivem mais, eles são cognitivamente mais aguçados”. O bem-estar relacional também é impactado porque indivíduos com propósito são mais propensos a colaborar com os outros e trabalhar em equipe. Embora ter um vida com propósito signifique lutas e dificuldades, fazer algo com significado ajuda no nosso bem-estar emocional. Talvez a emoção mais prazerosa que emerge do  propósito seja a gratidão, ao vivermos uma vida com sentido estamos mais propensos a apreciar os acontecimentos que o mundo nos proporciona, algo de importância pessoal e isto nos ajuda a suportar emoções dolorosas nos tornando mais resistentes a suportar as dificuldades da vida.

Para experimentar um senso de propósito em nossas vidas não precisamos ter isto em todos os momentos do nosso dia. E muitas vezes vivenciar significado em tudo ou em quase tudo não nos parece muito possível. A boa notícia é que a ciência da felicidade descobriu que injetar algo com sentido em uma ou duas horas por dia, ou até mesmo uma vez por semana, gera mais felicidade e sucesso. Mesmo que a atividade seja breve, a experiência se espalha para áreas não relacionadas da nossa vida. A confiança, a paixão e o sentimento de satisfação, por exemplo, que obtemos a nos envolver com tais experiências se espalham para outras atividades e interesses, causando um efeito de transbordamento. Um passeio com a família ou de bicicleta uma vez por semana pode contribuir para uma experiência global na sua vida. Ajudar ao outro, lecionar, pintar, tudo isso nos ajuda a elevar os nosso níveis de felicidade.

Um propósito não precisa ser heroico para ser nobre, ele está no nosso cotidiano, na existência comum. As mudanças reais e profundas podem estar encobertas e por isso quase não as percebemos, mas ainda assim fazem a diferença no mundo. O propósito está em todos os lugares, sejam internos ou externos, visíveis ou invisíveis.

* Cintia é gestora de Gente e Hospitalidade do RioMar Recife. É personal e professional coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e integrante da Happiness Studies Academy (HSA – Academia de Estudos da Felicidade do Doutor Tal ben Shahar).

Felicidade em tempos incertos

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